sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Três tiros que saem pela culatra

Ou “Três coisas que, quanto mais você se esforçar para fazer, maiores suas chances de falhar!” (E pelo mesmo motivo).

Estamos acostumados com a ideia de que quanto mais nos esforçamos para obter algum resultado, melhores esses resultados serão. Em algumas situações, no entanto, esforço não é sinônimo de sucesso. Veja alguns casos em que, quanto mais você tentar, mais provavelmente irá fracassar.



1 – Dormir
A insônia é o transtorno do sono mais comum, e caracteriza-se pela dificuldade de iniciar ou manter o sono, assim como pela sensação de não ter tido um sono reparador. Ela pode ter causas diversas, algumas ligadas ao ambiente no qual se dorme, aos hábitos diários da pessoa, à ingestão de substâncias, e algumas delas de origem psicológica.

Fazendo uma rápida busca na Internet, você vai descobrir infindáveis páginas com as mais variadas dicas para driblar a insônia e dormir bem. Sem tirar o mérito dessas estratégias, parece haver um elemento comum nas dificuldades de dormir: quanto mais importante é que durmamos, mais difícil se torna dormir. “Amanhã vai ser um dia difícil, preciso estar bem descansado!” parece ser um convite para a insônia. Para algumas pessoas, ter um tempo restrito de sono acaba gerando ainda mais dificuldade (“Tenho que acordar daqui a pouco, por quê não consigo dormir?”). Nem precisa dizer que comandos mentais do tipo “dorme logo!” não ajudam muito.


O problema está no fato de que, para dormir, o organismo precisa atingir um estado de relaxamento e de redução da atividade geral do corpo. O corpo precisa parar de trabalhar para descansar. O que poucas pessoas reconhecem é que a atividade mental também demanda que o corpo trabalhe. Pensamentos intensos, em especial preocupações, deixam o corpo em um estado de alerta. Quando você pensa algo como “preciso resolver esse problema amanhã”, o corpo interpreta de forma muito semelhante a “preciso resolver esse problema agora”, o que gera um estado de ansiedade e ativação, com função de preparar para ação. Esse estado de ansiedade é incompatível com o sono, e não vai deixá-lo dormir. Pensamentos como “preciso dormir”, “amanhã é um dia importante” têm o mesmo efeito.

A solução é: se você está com dificuldades para dormir, é melhor aceitar e se conformar do que lutar contra isso. Deixar de lutar é uma forma de facilitar o sono. A famosa estratégia de contar carneirinhos pode ter seu fundamento aí: quando você distrai sua mente com pensamentos neutros, evita que os pensamentos que te mantêm acordado tomem conta.


2 – Mentir
Muito se discute sobre a possibilidade de perceber quando uma pessoa mente através da observação de seus gestos e expressões faciais. A série Lie to Me, ainda que fundamentada em uma literatura científica, tem propagado os mitos de que alguns sinais denunciam quando as pessoas estão mentindo. Tendo estudado e pesquisado detecção de mentiras por um tempo, cheguei à conclusão de que a resposta para a maioria das perguntas sobre o tema é: depende. Nem sempre emitimos sinais quando estamos mentindo, nem todas as pessoas emitem os mesmos tipos de sinais, e uma mesma pessoa se comportará de forma diferente quando mente sobre coisas diferentes.

A ideia é simples: olhe para o céu e diga “o céu é azul”. Agora olhe para o céu e diga “o céu é vermelho”. Você acha que alguma coisa no seu comportamento denunciou sua mentira? Provavelmente não. A expressão dos sinais de mentira depende de um conjunto de fatores. Entre os mais importantes estão: quanto maior a probabilidade de ser pego, e quanto mais está em jogo para o caso de uma mentira ser pega, mais essa mentira vai gerar respostas emocionais naquele que mente. E uma das formas pelas quais a mentira “vaza” mais expressivamente é através dessas emoções.


Em outras palavras: quanto mais importante é que sua mentira não seja percebida, mais provavelmente você deixará transparecê-la. Na área, isso recebe o nome de “efeito prejudicial da motivação”. Dizer “eu nunca te traí” provavelmente envolverá muito mais sinais de mentira do que dizer “o céu é vermelho”. É por isso que os estudos da em detecção de mentiras, assim como suas aplicações, têm focado nas chamadas mentiras de alto-risco, como aquelas envolvendo problemas legais e criminais.

A boa notícia é que o ser humano, de modo geral, é um péssimo detector de mentiras. Mesmo quando esses sinais estão presentes, a maioria das pessoas não conseguirá detectá-los, a menos que seja especificamente treinada para tal.


3 – Ter uma ereção
A esmagadora maioria dos problemas de disfunção erétil – dificuldades para iniciar e manter uma ereção – têm origem psicológica. Dado o fortíssimo impacto que esse tipo de problema pode ter na autoestima dos homens, a maioria tende a interpretar dificuldades de ereção da forma mais negativa possível, e seu primeiro impulso é buscar um médico, imaginando que só uma doença poderia justificar aquilo. Quando se fala em “causas psicológicas”, as pessoas erroneamente pensam “afinal, por quê eu vou querer ter problemas com ereção?”.

As ereções são provocadas por uma resposta parassimpática do sistema nervoso autônomo, e podem ser disparadas por uma variedade de estímulos, em especial aqueles ligados à excitação sexual. Se, concomitante a isso, o indivíduo estiver lidando com uma situação de stress, preocupação ou conflito, a ansiedade provocada terá um efeito inibidor sobre as respostas de excitação. Em outras palavras: um pensamento ou situação do tipo “eu não posso falhar!” provavelmente diminuirá suas chances de ter uma ereção.


A grande complicação desse problema é que ele tem um teor cíclico. Alguns homens experienciam uma primeira dificuldade de ereção por motivos bastante circunstanciais: cansaço, álcool, ou preocupações ligadas a problemas não relacionados ao sexo. Por ser extremamente frustrante, o “broxar” gera efeitos intensos. Poucos pensarão “tudo bem, da próxima vez dá certo”, sendo o pensamento mais provável algo como “meu deus, estou com um problema, não estou sendo homem, nunca mais vou conseguir transar!”. Essa preocupação constitui aquilo que é chamado ansiedade de desempenho, e é uma das causas mais comuns para dificuldade de ereção. Quanto maior for o medo de falhar, mais constantes os pensamentos antecipatórios, e mais importante é a situação que exige um bom desempenho, maiores serão os efeitos dessa ansiedade, e maiores as chances de falhar de fato. E quanto mais o indivíduo falhar de fato, maior será o seu medo de que isso volte a acontecer.

Algumas formas de lidar com isso incluem tentar não preocupar-se antecipadamente com relações sexuais, não focar a atenção na própria ereção durante o sexo, e na relação sexual dar um tempo maior para preliminares. Essas medidas ajudarão a reduzir a ansiedade e potencializar a excitação sexual.

Vale dizer que, se estiver com problemas sérios e persistentes relativos ao sono ou à ereção, procure um profissional especializado.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Como fazer resoluções de ano novo

Na virada de 31 de dezembro de 2007 para 1º de janeiro de 2008, decidi pela primeira vez na vida tirar um tempo para escrever resoluções de ano novo. Sentei, pensei, e fiz uma lista de todas as coisas que eu queria mudar em mim e na minha vida. Não me lembro inteiramente do conteúdo da lista que fiz, mas se não me engano continha oito ou nove itens. Lembro-me de ter passado essa lista para o computador, e comprometer-me em pelo menos lê-la uma vez por dia.

O compromisso de ler a lista todos os dias não durou nem um mês. Com o tempo, eu passei a esquecer que a lista e seus objetivos existiam. No final do ano, recapitulei as resoluções para ver o quão bem sucedido eu havia sido. O fracasso beirou 100%. Minha vida estava mais ou menos a mesma coisa, e eu não havia atingido com solidez nenhuma daquelas mudanças.

Fiquei frustrado, e também um pouco curioso. "Por que será?" Eu me considero uma pessoa relativamente competente em manejar a própria vida. O que teria dado errado?


Desde então, não havia feito novos planejamentos para os anos seguintes. Até porque sou do tipo de pessoa que acredita que os movimentos de mudança devem começar imediatamente, e nunca na segunda-feira.

Esse ano (final de 2012), resolvi fazer novas resoluções. Dessa vez não seriam necessariamente resoluções, mas uma espécie de planejamento para 2013. Minha forma de pensar está diferente, e dessa vez eu acredito que possa estruturar algo que faça sentido. Escrevo este texto para compartilhar a forma como fiz esse planejamento, na esperança de que possa fazer sentido para mais alguém.

A diferença básica do que eu fiz agora para o que havia feito antes é a pergunta por trás do processo: Antes, "o que eu devo mudar na minha vida?". Agora, "como minha vida deve ser?". A diferença é sutil, mas importante: focar naquilo que deve ser mudado nos tira o foco dos campos de nossa vida onde as coisas estão indo bem. Não acredito que a vida de ninguém possa estar tão errada assim.

Meu planejamento seguiu dois passos que considero essenciais:

1 - O que eu preciso para me manter em equilíbrio?

Acredito que esta é a pergunta certa a ser feita. É uma pergunta que respeita a individualidade das pessoas. O que deixa uma pessoa bem não é necessariamente o que deixará a outra pessoa da mesma forma. Nossa cultura é cheia de regras e prescrições, e às vezes é difícil discernir o fato de que nem sempre valem para todas as pessoas. Fazendo uma busca no Google, encontrei listas com as resoluções mais comuns para o ano novo. Resultados pouco surpreendentes: perder peso, juntar dinheiro, aprender algo novo, parar de beber/fumar, etc. Por trás disso, existe uma noção forte de adequação, de ajustamento. Mais do que isso, existe uma parcialidade negativa muito grande na visão de nossos hábitos: parece ser simples entender por quê se deve perder peso ou parar de fumar, mas alguém já pensou por quê NÃO comer menos ou por quê NÃO parar de fumar? Algum motivo deve existir, e motivos fortes - ou então não seria tão difícil.

Como mencionei, o que é bom para uma pessoa não necessariamente vale para todo mundo. Ao refletir sobre o que é importante para você, respeite-se. Não repita as velhas respostas, pois é quase certo que os velhos fracassos a acompanharão.

A melhor maneira de responder a esta pergunta é observar o passado. Tenho um hábito de sempre tentar entender a origem de meus estados psicológico. Sobretudo quando estou bem, me pergunto: o que está acontecendo na minha vida que está me deixando bem? Quais são os elementos? Se você nunca se fez essa pergunta antes, olhe para trás agora e pense nos momentos da sua vida nos quais se sentiu bem, tranquilo. Não estou falando de breves instantes de prazer, mas de fases durante as quais esteve satisfeito com a própria vida. Pergunte-se: como era sua vida? Como era sua rotina? O que acontecia?

Acredito que, no meio das respostas, necessariamente estarão incluídos elementos ligados a relacionamentos interpessoais, e de alguma forma ligados a trabalho. Provavelmente também algo ligado a lazer/hobbie/descanso. Que elementos, exatamente, variam de pessoa para pessoa. Apesar da pergunta simples - o que te deixa bem? - as respostas podem ser mais complexas.

Pense com cuidado para fazer essa lista, mas tente mantê-la a mais enxuta possível. Esses serão seus objetivos - quanto menos, mais realizáveis. Seja também realista com a origem do seu bem-estar e mal-estar. Se você deslocar os problemas para o lugar errado, a solução deles se tornará impossível.


2 - Organize seu tempo

Manter bons hábitos ou solucionar problemas exige tempo. Se você quer perder peso, precisa de tempo para ir à academia. Se você quer descansar mais, precisa de tempo para dormir, e para ficar deitado vendo televisão. Se você quer aprender inglês, precisa de tempo para ir às aulas e estudar em casa. Se você quer encontrar uma namorada, precisa de tempo para sair e conhecer pessoas. Não há escapatória: não vão existir mudanças sem um investimento adequado de tempo.

No geral, percebo que as pessoas utilizam seu tempo muito mal. Você já deve ter ouvido quase todo mundo dizem em algum momento "mas eu não tempo para isso!", quando na verdade sua rotina está cheia de pequenos períodos de perda de tempo que, somados, poderiam ser transformados em algo muito positivo. Encontrei essa charge no Facebook, e dadas as proporções achei genial:

(clique para ampliar)

Definitivamente, para todas as pessoas, vale a pena sentar e fazer um planejamento escrito do próprio tempo - uma espécie de agenda. Mesmo que você não consiga seguir seu planejamento à risca, ele vai te ajudar a descobrir esses pequenos períodos no dia que poderiam estar sendo melhor aproveitados, e vai te ajudar a perceber também quando você está usando tempo excessivo para coisas que te fazem mal.

O importante aqui é não desvincular o passo 2 do passo 1. Invista seu tempo naquilo que é importante para você. Apesar da frase com cheiro de chavão, acredito que é essa ideia que dá sentido a um planejamento de resoluções de ano novo. Sem um momento para reflexões desse tipo - que pode ser feito em qualquer dia do ano, não só no 31/12 - tendemos a correr no piloto automático, e manter-nos com os mesmos vícios e problemas.

Na dificuldade em lidar com problemas grandes demais ou na incapacidade de entender a si próprio e o que é realmente importante para você... tenho uma boa notícia: existem profissionais especificamente habilitados para te ajudar com essas questões. Procure um psicólogo!

Quanto às minhas resoluções pessoais... depois de algum tempo fazendo todo esse planejamento cuidadoso, cheguei à conclusão de que deveria manter minha rotina quase exatamente como está. Isso é bom: sinal de que estava conduzindo bem minha própria vida, e de que meu método de planejamento não é tão absurdo. Deixei também um espaço para tentar coisas novas, e para os imprevistos.

Feliz 2013!